NEWSLETTER Edição Especial - Um olhar das juventudes sobre acessibilidade
Esta edição traz dois textos escritos pelo núcleo jovem da Midiateca Capixaba.
Após meses de formações, visitações e vivências nos espaços culturais do Espírito Santo, nossos bolsistas desenvolveram uma série de reflexões sobre um tema que chamou a atenção: a questão da acessibilidade.
Te convidamos a ler e refletir sobre o assunto, a partir do olhar das juventudes.
Acessibilidade nos espaços culturais da Grande Vitória
Por Emmily Kévellyn, Lidia Araújo e Maria Eduarda Queiroz
A Midiateca Capixaba é uma plataforma digital que reúne vários acervos históricos e artísticos, principalmente de artistas capixabas, mas também de outros estados. Os espaços que compõem os acervos permanentes da Midiateca são: Palácio Anchieta, Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (MAES), Arquivo Público, Museu do Colono, Galeria Homero Massena e Biblioteca Estadual. Tendo a acessibilidade como ponto central, o núcleo Juventudes Conectadas fez uma pesquisa nessas instituições, com o objetivo de saber quais os tipos de acessibilidades que esses locais possuem.
Antes de expor os resultados, é importante entender o que é acessibilidade e seus diferentes tipos. A acessibilidade pode ser definida como a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização, em igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, do meio físico, do transporte, da informação e da comunicação para todas as pessoas. Quando pensamos sobre o tema, geralmente relacionamos com a arquitetura, que está relacionada à acessibilidade natural e diz respeito aos recursos que permitem a locomoção de pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida em qualquer espaço com autonomia. Todos os espaços que compõem a plataforma da Midiateca Capixaba já possuem rampas, corrimãos e elevadores, portanto, são acessíveis nesse sentido.
O acesso nos meios de transportes serve como uma inclusão essencial para ligar o público às instituições culturais. Um espaço no qual todos os visitantes conseguem chegar significa igualdade de oportunidades, diversidade de audiência, aumento do alcance e uma sociedade mais informada, além de oferecer uma oportunidade de lazer e qualidade de vida à população. O Palácio Anchieta e a Biblioteca Estadual proporcionam o acesso do visitante até os espaços, oferecendo sinalização acessível para o público, por meio de placas e faixas, o que contribui para o trajeto do visitante. O estacionamento acessível é algo que os espaços culturais podem adotar, garantindo que haverá vagas suficientes e acessíveis para pessoas com deficiência. Outra possibilidade é a informação acessível no meio digital, com a disponibilização de linhas e horários de ônibus que passam perto da instituição, além de mapas detalhados.
A Biblioteca Estadual possui acessibilidade instrumental com ferramentas como sinalizações e livros em braille, voltados para pessoas com deficiências visuais. Além disso, o espaço também está trabalhando para a utilização de descritores de imagens e descrições em braille. A acessibilidade instrumental facilita a interação para pessoas com as mais diversas necessidades e pode ser incrementada com audioguias, descrições de imagens em áudio e tradução, exposições que envolvam os cinco sentidos corporais e disponibilidade de tampões de ouvidos para pessoas com sensibilidade auditiva. A comunicação tem proximidade com esse tipo de acessibilidade e pode garantir que, independente de suas habilidades sensoriais ou cognitivas, as pessoas compreendam toda a informação apresentada. Além disso, a implementação do sistema de feedback é uma maneira de comunicação direta do público com a instituição, que pode auxiliar a aprimorar o espaço cultural.
A acessibilidade digital é algo presente em todos os espaços públicos integrantes da Midiateca Capixaba, já que todos os acervos estão digitalizados e disponíveis na plataforma online. Outras formas de contribuir com a acessibilidade no meio digital são: as redes sociais como o Instagram, com posts informativos e contatos fáceis de encontrar; websites inclusivos; aplicativos móveis; tour virtual para o desfrutamento da experiência mesmo dentro de casa; e programações online. Essa acessibilidade facilita devido à liberdade geográfica, pois pessoas de outros locais, com dificuldade de acessar presencialmente, têm a possibilidade de acessar digitalmente.
A abordagem voltada para a acessibilidade programática é notada no MAES e na Galeria Homero Massena em determinadas exposições temporárias, permitindo que o público participe plenamente da programação cultural e educativa. Esse tipo de acessibilidade tem relação com a flexibilidade de horários para que, em casos de sensibilidade sonora e visual, as pessoas se beneficiem de um ambiente mais tranquilo, juntamente com materiais educativos inclusivos que contribuem com a experiência da visita ao espaço e com atividades interativas.

A acessibilidade metodológica, também conhecida como acessibilidade pedagógica facilita na quebra de barreiras nas formas de ensino-aprendizagem, fazendo com que todos os tipos de pessoas com deficiência à educação consigam entender os conteúdos de forma qualificada, como, por exemplo, textos em braille e textos ampliados. Para além disso, essa acessibilidade não se trata apenas de adaptação de materiais, mas também envolve uma abordagem pedagógica inclusiva, que considera as diversas formas de aprender e processar informações. Alguns exemplos são: levar em consideração a diversidade cultural e linguística dos alunos; incluir a utilização de diferentes modalidades de ensino, como aulas expositivas, discussões em grupo, atividades práticas, uso de tecnologia assistiva, entre outras. Por isso, é essencial que medidas sejam tomadas para que todos os nossos espaços públicos tenham esse tipo de acessibilidade.
Por fim, não podemos esquecer da acessibilidade atitudinal, que é fundamental para um espaço inclusivo. É necessário realizar a formação dos profissionais que estão nesses espaços para criar um ambiente mais inclusivo e que abrace todas as diversidades. Desenvolver essa habilidade interpessoal com base na igualdade, no respeito e na empatia será um marco na quebra de barreiras que prejudiquem a participação social de indivíduos com ou sem deficiência.
Documentário “Entrada Livre”:
A temática deste texto surgiu a partir do documentário "Entrada Livre", produzido pelos bolsistas do Juventudes Conectadas. Lançado em março de 2024, o filme tem como tema central a acessibilidade das juventudes, sobretudo as periféricas, nos espaços de arte e cultura do Espírito Santo. Em breve, o documentário estará disponível no site da Midiateca.
Reflexões e estratégias sobre acessibilidade no Espírito Santo
Por Lyncom Viera, Luma Lopes Alves e Jodson Silva
Desde junho de 2023, o Juventudes Conectadas, núcleo jovem da Midiateca Capixaba, vem propondo produtos audiovisuais para as redes sociais da plataforma, a partir de visitas dos bolsistas aos espaços de arte e cultura do Espírito Santo. Com orientação crítica sobre os processos realizados, criamos uma bagagem de reflexões e estratégias sobre acessibilidade que visam não apenas facilitar o acesso dos jovens a esses espaços, mas também cultivar um ambiente acolhedor e estimulante para sua participação ativa.
Em alguns dos espaços visitados, percebemos a ausência de informações sobre como chegar até os locais, desconsiderando na maioria dos casos a rota através de transportes públicos. Sendo essa a principal forma de mobilidade na cidade pelas juventudes, não considerar essa rota é uma maneira de dificultar o acesso por barreiras logísticas causadas pela comunicação do espaço cultural.
Quando nos propomos a ir em um espaço cultural é importante saber com precisão a localização, além de informações relacionadas sobre como chegar ao local. A transparência e a facilidade de acesso às informações sobre local, exposições, atividades e eventos contribuem significativamente para a criação de uma atmosfera inclusiva. Vale ressaltar que a Midiateca Capixaba busca encurtar as barreiras logísticas quando disponibiliza os acervos dos espaços para acesso virtual. Entretanto, consideramos que a visita presencial é importante para o desenvolvimento do repertório cultural dos jovens.
As exposições que chamaram mais atenção foram as que envolviam expressões artísticas conhecidas pelo grupo de bolsistas do Juventudes Conectadas, como hip hop, slam e anime, por exemplo. Pensar em englobar conteúdos de interesse das juventudes dentro das exposições é uma maneira de chamar atenção deste público para esses e outros temas relacionados. Além disso, formatos de exposições interativas com as peças expostas ou que propõem oficinas com os visitantes chamaram mais atenção do nosso grupo. Ao promover parcerias e projetos junto com os visitantes, os espaços culturais podem criar experiências que ressoam com os interesses dos jovens.

Durante o período da bolsa, tivemos a oportunidade de trabalhar em conjunto com o Centro de Referência das Juventudes nos territórios de Flexal II e de São Pedro para a construção do documentário Entrada Livre. Nas trocas com os agentes culturais desses territórios que atuam com as juventudes, percebemos o quanto a presença dessas figuras faz a diferença quando inseridas nos espaços de arte e cultura. Pensar em exposições que valorizem a participação desses agentes culturais seria uma forma de intermediar as exposições para as juventudes.
Levando em consideração a atuação do Juventudes Conectadas com as redes sociais da Midiateca, a presença de profissionais especializados na comunicação com as juventudes desempenha um papel crucial na criação de conteúdos atrativos e relevantes que dialoguem com suas linguagens e estilos visuais. A utilização de elementos culturais e estéticos familiares aos jovens é fundamental para despertar seu interesse e engajamento com os espaços de arte e cultura.
Diante disso, fica evidente para o grupo que boa parte das questões citadas podem ser amenizadas com uma boa comunicação online dos espaços de arte e cultura do Espírito Santo com o público geral. É possível pensar na participação das juventudes nos espaços, mesmo que as questões orçamentárias e estruturais sejam semelhantes, pois a principal mudança é no olhar. Incluindo os jovens na organização e produção, o resultado será mais interessante para a juventude enquanto público. Dessa forma fortalecemos a diversidade e a vitalidade dos nossos patrimônios culturais, além de desenvolvermos uma sociedade mais inclusiva e democrática.